quinta-feira, março 16, 2006

Carnaval é em Piúma! › 24 Fev

E aí chegou o Carnaval. Quanto a mim não chegou muito mais. A loucura, a alegria, a música e a cachaça já lá estavam, mas tomaram proporções gigantescas.


Carnaval é coisa muito séria.
É ao pequeno almoço discutir quem desfilou melhor, é pular constantemente, é na quarta-feira de cinzas comprar o ingresso para o ano seguinte (o preço pode ser superior a 5 ordenados mínimos),
aí Português, prova esta cachaça de gengibre,
é saber dançar, é saber mostrá-lo,
é o garoto de 8 anos a apanhar latas na rua,
é ser arrastado por suores desconhecidos, é chover quentinho e com isso dançar mais,
aí Portuga, esta cachaça foi envelhecida em coco, tem que experimentar,
é na televisão anunciar o último número de assassinatos enquanto se toma uma caipirinha no duche,
é saber o que é um bloco de rua e acompanhar o meu amigo Marco, os pais, tios e prima de 91 anos no seu bloco de sempre, cada qual com instrumentos que já soube o nome,
aí, esta cachaça sabe a mel, já provou?
é o preço de 1kg de lata apanhada não chegar a 1€,
é “olhou? beijou!”, assim, sem compromisso, sem perguntas forçadas nem respostas arrancadas, só a celebrar o momento,
é a lata custar mais a apanhar porque tem milhões de pessoas a saltar sobre ela,
é comer feijoada feita pela mamãe e ter que dormir a seguir,
é mascarar-me num dia de mulher, noutro de nenêm, e continuar a ser eu,
bicho, cachaça não é água não!


Quanto à musica, aprendi o que é Axé, Música Baiana e Samba Rock.
Toda a cidade torna-se o palco de uma orquestra caótica e os seus grupos de instrumentos espalham-se pelas ruas mas não tocam em sintonia. Nesta selva musical a lei do mais forte traduz-se de forma bem animal em volume de som. O chocalho do meu amigo é presa fácil para o carro de som. O rugido característico desta espécie (uma clonagem entre automóvel e discoteca) é o Funk da Favela. É incrivel como entra pelo corpo dentro e enquanto que a mente vai dizendo que não gosta (qualidade musical duvidosa, letras bem grosseiras) o corpo vai dizendo que sim a um ritmo bem frenético (impossível não dançar). Ver um grupo a dançar funk numa esquina mal iluminada fez-me lembrar quer rituais tribais quer filmes de sacanagem.

Sem dúvida que o estandarte do sanatório geral passou mas nem tudo se acaba na quarta-feira. Aliás, para mim é o início de fazer-me à estrada.

Vou escutar a música do Morro de São Paulo.